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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Ainda um louco olhar

Seu olhar enroscado no meu era tudo o que a gente tinha. Até o nunca mais.

Pois é, querer ver (nem sempre)
é poder
um tele-beijo folclórico
e mais algumas palavras
sorvidas gota-a-gota
bem ao gosto das figuras
que se sabem amantes na intenção

Negar tudo sempre é preciso
e possível é porque o crime,
como manda o figurino,
jamais se viu concreto
mas os dois pares de olhos
se lambem, se deleitam

não se escondem porque
não adianta: já se disseram tudo
e apesar daquele fone ali,
daquele barulho infernal
olha eles ali, os olhos
sem-se-ver-se-vendo
combinando um encontro real.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

De olhares...

Pelo menos te roubei aquele beijo. "Seu nome perdido comigo em alguma gaveta..."


Hmm, desconcertante olhar
de profundo sentir
profundo beijar
profundo castanho-negro
escuro e brilhante
debruçando-se à beira do meu,
sem pudor, aquele das palavras.

Olhaste assim, sempre?
É assim que sempre olhas?
Olhar que não se vela
Como se vela o que dizes com a boca.
Véus, pra quê servem
que prendem as palavras ainda
na garganta, nos pulmões até?

Emaranhado de teias
que queria ver arrancadas
deixando passar o que
o olhar me grita.
No entanto receio
se percebo o murmúrio.

Não quero o cristal quebrado do olhar
esfacelado frio sem sentido
morto
Prefiro o desvario e o desespero
desse olhar rasgado, perdido
debruçando-se no tal abismo
enlouquecido
SEMPRE-VIVO.

(1989/90, em um ônibus da Útil, voltando do Rio para Juiz de Fora)



sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Duas semanas, uma vida inteira


De que matéria são feitas as histórias? Não as grandiosas e conhecidas de todos, recheadas de feitos e efeitos. Mas a da gente comum e extraordinária que caça balões coloridos no céu das manhãs de domingo no inverno. Ou daquelas que abrem janelas espichando os braços pra fora  junto com as bandeiras para o dia encher o peito.





Eu tenho um palpite de aprendiz de fiandeira: essas histórias são escritas em tear. Milhares de milhões deles estão por aí, de todos os jeitos e formas, tecendo sozinhos mecânicos, tocados a muitas mãos continuamente, usando linhas de tons da mesma cor, produzindo erráticos coloridos ou previsíveis padrões.





Nós temos um tear, eu e você. Ele fica numa sala que criamos juntos para ele e que mantemos sob olhar sereno. Ao contrário do que possa parecer, não está sobre a mesa um cachecol tecido às pressas em duas semanas. Olhe bem... a trama segue enredada na urdidura. Vamos a ela quase sempre em solitude, revemos os fios trançados, tocamos lugares e sentimos ares, pegamos no pente sem crer que teceu tudo aquilo em tão pouco tempo. Percebe que fios são esses? Vê suas cores? Sente a textura e a força e a delicadeza?


Quem disse que todo amor-tecido tem o mesmo desenho? Não há pressa para terminar o trabalho do artesão quando a trama, acabada, não faz sentido. Ali está uma história. A nossa história possível. Vez por outra damos a ela um novo tom, recriamos o desenho a quatro mãos. Se haverá outro balão de sombra colorida a se projetar no urdume, pouco importa. Vou lá, abro a janela da sala, abraço a luz que sempre entra e inspira. Uma vida inteira a tecer.