De que matéria são feitas as histórias? Não as grandiosas e conhecidas de todos, recheadas de feitos e efeitos. Mas a da gente comum e extraordinária que caça balões coloridos no céu das manhãs de domingo no inverno. Ou daquelas que abrem janelas espichando os braços pra fora junto com as bandeiras para o dia encher o peito. 
Eu tenho um palpite de aprendiz de fiandeira: essas histórias são escritas em tear. Milhares de milhões deles estão por aí, de todos os jeitos e formas, tecendo sozinhos mecânicos, tocados a muitas mãos continuamente, usando linhas de tons da mesma cor, produzindo erráticos coloridos ou previsíveis padrões.
Quem disse que todo amor-tecido tem o mesmo desenho? Não há pressa para terminar o trabalho do artesão quando a trama, acabada, não faz sentido. Ali está uma história. A nossa história possível. Vez por outra damos a ela um novo tom, recriamos o desenho a quatro mãos. Se haverá outro balão de sombra colorida a se projetar no urdume, pouco importa. Vou lá, abro a janela da sala, abraço a luz que sempre entra e inspira. Uma vida inteira a tecer.
