sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Duas semanas, uma vida inteira


De que matéria são feitas as histórias? Não as grandiosas e conhecidas de todos, recheadas de feitos e efeitos. Mas a da gente comum e extraordinária que caça balões coloridos no céu das manhãs de domingo no inverno. Ou daquelas que abrem janelas espichando os braços pra fora  junto com as bandeiras para o dia encher o peito.





Eu tenho um palpite de aprendiz de fiandeira: essas histórias são escritas em tear. Milhares de milhões deles estão por aí, de todos os jeitos e formas, tecendo sozinhos mecânicos, tocados a muitas mãos continuamente, usando linhas de tons da mesma cor, produzindo erráticos coloridos ou previsíveis padrões.





Nós temos um tear, eu e você. Ele fica numa sala que criamos juntos para ele e que mantemos sob olhar sereno. Ao contrário do que possa parecer, não está sobre a mesa um cachecol tecido às pressas em duas semanas. Olhe bem... a trama segue enredada na urdidura. Vamos a ela quase sempre em solitude, revemos os fios trançados, tocamos lugares e sentimos ares, pegamos no pente sem crer que teceu tudo aquilo em tão pouco tempo. Percebe que fios são esses? Vê suas cores? Sente a textura e a força e a delicadeza?


Quem disse que todo amor-tecido tem o mesmo desenho? Não há pressa para terminar o trabalho do artesão quando a trama, acabada, não faz sentido. Ali está uma história. A nossa história possível. Vez por outra damos a ela um novo tom, recriamos o desenho a quatro mãos. Se haverá outro balão de sombra colorida a se projetar no urdume, pouco importa. Vou lá, abro a janela da sala, abraço a luz que sempre entra e inspira. Uma vida inteira a tecer.